TEXTOS CONCERTO VOCAL

Carpintarias S. Lázaro
18 Setembro, 21h

Hildegard von Bingen

Ó rubor sanguíneo

Ó rubor sanguíneo

que daquele excelso lugar jorraste

e que a divindade tocou: tu és uma flor

a quem o hálito da serpente

nunca feriu.

Ordo virtutum – Prólogo

(Patriarcas e Profetas) Quem são estes, que vêm como nuvens?

(Virtudes) Ó santos antigos, porque vos admirais em nós? O Verbo de Deus resplandece na forma humana, e por isso brilhamos com Ele, edificando os membros do seu belo corpo.


(Patriarcas e Profetas) Nós somos as raízes e vós os ramos, frutos do olho vivente; e fomos sombra n’Ele.

(Queixa das almas aprisionadas na carne) Oh, nós somos peregrinas. Que fizemos, desviando-nos para o pecado? Filhas do Rei deveríamos ser, mas caímos na sombra dos pecados. Ó sol vivente, leva-nos sobre os teus ombros para a herança justíssima que em Adão perdemos! Ó Rei dos Reis, no teu combate lutamos.


(Alma Feliz) Ó doce divindade, e ó suave vida, na qual vestirei o traje resplandecente, recebendo aquilo que perdi na primeira aparição, para Ti suspiro, e invoco todas as Virtudes.


(Virtudes) Ó feliz Alma, e ó doce criatura de Deus, edificada na profunda altura da sabedoria de Deus, muito amas.


(Alma Feliz) Com alegria virei a vós, para que me deis o beijo do coração.

(Virtudes) Devemos combater a teu lado, ó filha do Rei.


(Hildegard von Bingen)

Cássia de Constantinopla

Senhor, a mulher caída

Senhor, a mulher caída em muitos pecados,

ao reconhecer a Tua divindade,
uniu-se ao coro das portadoras de mirra.
Em lágrimas, trouxe-Te óleo perfumado
antecipando a Tua sepultura, e clamou:
“Ai de mim! Que noite escura me caiu,

loucura de trevas sem lua,

com o desejo selvagem de pecado.
Tu que reuniste as águas do mar nas nuvens,
inclina o Teu ouvido ao suspiro do meu coração.
Tu que inclinaste os céus
na Tua inefável condescedência,

toma a minha fonte de lágrimas.

Outrora Eva ouviu os Teus passos

no crepúsculo do Paraíso e escondeu-se, com medo.
Mas eu lavarei com beijos os Teus pés imaculados
e enxugá-los-ei com as mechas do meu cabelo.
Quem poderá medir a multidão dos meus pecados,
ou a profundidade dos Teus juízos,
ó Salvador da minha alma?
Não desprezes a Tua serva,
Tu, cuja misericórdia é infinita.”
.

(Cássia de Constantinopla)

Anónimo, Mosteiro feminino de Arouca

Exulta a corte dos céus

Exulta a corte dos céus
com festivo e alegre júbilo.
A santa mãe Igreja
congratula-se com o seu santo filho.


Bernardo, desde a infância,
brilhou em muitas virtudes.
Na pureza virginal
triunfou sobre o mundo.


Entrando em Cister,
cresceu no mérito da vida,
aí recebendo santamente
o hábito religioso.


Amen.

(Mosteiro feminino de Arouca)

Sulpitia Cesis

Maria Magdalena e a outra Maria

Maria Magdalena e a outra Maria

iam de madrugada ao sepulcro.

Jesus, a quem procurais, não está aqui;

ressuscitou, conforme tinha anunciado.

Irá adiante de vós para a Galileia,

ali O vereis.

Eleonora d’Este

Este é o dia

Este é o dia que fez o Senhor;

exultemos e alegremo-nos nele.

Aleluia.

(Salmo 117: 24)

Salve, esposa de Deus

Salve, esposa de Deus, virgem sagrada, flor das menores;
Tu vaso de pureza, tu, forma primeira das irmãs;
Clara, com as tuas preces, guia-nos aos reinos dos céus.

(Antífona do Magnificat das Segundas

Vésperas da Festa de Santa Clara)

Maddalena Casulana Mezari

Riem agora pelas encostas

Riem agora pelas encostas ervinhas e flores.
Não é possível que aquela alma angelical
não ouça o som das notas amorosas.
Se a nossa má fortuna for mais forte,
chorando e cantando os nossos versos,
com o boi coxo iremos caçando a brisa.

(Petrarca)

Vittoria Aleotti

Amo-vos, vida minha

Amo-vos, vida minha.
Muitas vezes o quis dizer
mas, ai de mim, ardo.

O amor fechou a voz entre os lábios,
e a vergonha e o temor
transformaram-me de homem vivo em pedra muda.


Amor, mas se queres que dos meus martírios
eu apenas cale e suspire,
diz-lhos tu àquela que me consome e desfaz,
e aquece-lhe o seio com a tua chama.

(Anibale Pocaterra)

Barbara Strozzi

Que se pode fazer?

Que se pode fazer?
As estrelas rebeldes
não têm piedade.
Se o céu não concede
um influxo de paz
ao meu penar,
que se pode fazer?

Que se pode dizer?
Dos astros desastres
chovem-me a toda a hora;
se o pérfido amor
nega um alento
ao meu martírio,
que se pode dizer?

(Gaudêncio Brunacci)

Ilse Weber

Wiegala (canção de embalar)

Wiegala, wiegala, weier,

O vento toca na lira,

tão doce, no canavial verde,
o rouxinol canta a sua canção.
Wiegala, wiegala, weier,
o vento toca na lira.

Wiegala, wiegala, werne,
a lua é a lanterna,
ergue-se no escuro firmamento
olha cá em baixo, para o mundo.
Wiegala, wiegala, werne,
a lua é a lanterna.

Wiegala, wiegala, wille,
como é o mundo silencioso!
Nenhum som perturba o doce repouso,
dorme, meu menino, dorme também tu.
Wiegala, wiegala, wille,
como é o mundo silencioso!

(Ilse Weber)

Fanny Mendelssohn

Já murmura a floresta ao entardecer

Ao entardecer já murmura a floresta

desde as profundezas.
Em breve, lá no alto

Deus acenderá as estrelinhas.
Que silêncio há nos vales,
ao entardecer murmura a floresta.

(Joseph von Eichendorff)

Saudação matinal

Velozes voam as sombras da noite,
florescem, na luz, os deslumbrantes prados
esplendorosa, sussura alto a floresta
escutam em silêncio as plantas escondidas
no orvalho que as flores transfigura –
que bênção, contemplar a manhã!

(Wilhelm Hensel)

Clara Schumann

Celebração vespertina em Veneza

Ave Maria! Mar e céu repousam,
de todas as torres ressoa o som dos sinos.
Ave Maria! Deixai a lida terrena,
orai à Virgem, ao Filho da Virgem!
As próprias hostes celestes ajoelham agora
com seus ceptros flor-de-lis diante do trono do Pai,
e através das nuvens róseas, os cânticos
dos bem-aventurados espíritos descem solenemente.

Avante

Deixa os sonhos, deixa o receio,
prossegue incansável o teu caminho!
E se a força quase te faltar,
“Avante” é a palavra certa.

Não te é dado repousar, quando a hora

Rosas ao teu encontro traz,

Quando, do fundo do mar,

A sereia te canta sedutora.


Avante! Avante! No canto

Luta com a dor do mundo,

Até que na tua face ardente

Caia um raio dourado do alto;


Até que a coroa, densa de folhagem,

Sombria te envolva a fronte,

Até que, transfigurada sobre a cabeça,

A chama do espírito em ti flutue.

Avança, pois, por entre as ameias do inimigo,

Avança através do suplício da morte!

Quem quiser conquistar o céu

Há-de ser um verdadeiro lutador.

Gondoliera

Oh, vem ter comigo, quando pela noite
passa a horda das estrelas,
então paira connosco, no esplendor da lua,
a gôndola sobre o mar.

O ar é doce como um gracejo de amor,
brinca, suave, a luz dourada,
a cítara soa e traz o teu coração
para dentro do prazer.

Oh, vem ter comigo, quando pela noite
passa a horda das estrelas,
então paira connosco, no esplendor da lua,
a gôndola sobre o mar.

(Emanuel Geibel)

[Traduções: Inês Thomas Almeida]